segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Plano Agache

Em 1940, o Interventor do Paraná, Manoel Ribas contratou a empresa Coimbra, Bueno & Cia Ltda. para elaborar um plano urbanístico para Curitiba. Não por acaso, a empresa encomendou o projeto ao urbanista Donat-Alfred Agache. Os estudiosos costumam atribuir a escolha do francês à sua notoriedade como urbanista, já que ele trabalhara no planejamento do Rio de Janeiro. No entanto, a decisão nada teve a ver com motivos técnicos. Ribas, Agache e os irmãos Bueno tinham algo em comum. Todos participavam da seita dos Mystagogos. Esta seita foi fundada pelo jesuíta Athanasius Kircher, no século XVII. O místico, todavia, reivindicava origens mais antigas para a seita. O escultor Rodin e Leonardo Davinci foram, com certeza, mystagogos, assim com o Arqueduque Leopoldo Guilherme, da Áustria. Na origem da genealogia dos Mystagogos estaria o faraó Akenaton.
A ligação de Curitiba com esses conventículos misticos é notória. Basta lembrar que a cidade teve influência marcante dos Neopitagóricos, dos Rosacruzes e dos Harekrishnas.
As crenças Mystagógicas fundem Zoroastrismo, numerologia e diversas considerações místicas sobre a forma, inclusive a urbana.

Na foto, o Interventor Manuel Ribas, que era Grão-mestre de Terceira Ordem e fundador da Regional Paraná, faz a costumeira saudação mystagógica aos planos do urbanista francês.

Uma das características recorrentes dos mystagogos é a de fazerem-se representar segurando a própria cabeça, num gesto místico que se refere à auto-iluminação e controle dos pensamentos.


















A filiação mystagógica dos planos que Agache elaborou para Curitiba é evidente. Basta correlacioná-los com outras propostas urbanas de caráter místico, como as de Athanasius Kircher e de Leonardo Davinci. Todas elas têm como referência as representações do Jardim do Édem bíblico.
                                                                   
                                                                        Agache

                                              Kircher                                              Davinci









Quando detalhou o seu plano para a Rua XV de Novembro, Agache voltou a um dos temas mais correntes entre os iniciados mystagógicos: o das passagens místicas que ligam o lado da escuridão com o da luz. Ao fundo aparece o grande Zigurat místico, encimado pelo pentagrama utilizado nas cerimônias de fogo mazdaístas. O imenso edifício não saiu do papel. Desta parte do projeto, a única que chegou a ser construída foram as galerias da Rua XV. Veja-se abaixo a comparação entre o projeto e a situação atual.












Uma vez que a falta de recursos tornou inviável a proposta do grande edifício místico, Agache propôs uma reforma no edifício sede da Prefeitura, para adaptá-lo às cerimônias do fogo. Esta proposta também não chegou a ser implementada, devido à queda de Manuel Ribas.


Os componentes mystagógicos do design urbano de Agache, não se encerram aí. O projeto do grande viaduto do Capanema, ao qual se acoplava a Rodoviária, também partia do imaginário da seita. Ele tinha a forma de um Faravahar, a representação zoroastrista da alma humana.



Outra característica mystagógica evidente aparece nos projetos de praças do urbanista francês, todos elas de caráter cerimonial religioso, contendo obeliscos e faróis de iluminação mística.



O mystagogismo  de Agache acabou incorporado nos planos urbanos futuros de Curitiba. O plano SERETE, vulgo Lerner, é quase que uma cópia daquilo que propôs o urbanista francês. Agache foi buscar as quatro linhas estruturais da Cidade, diretamente na obra numeralógica de Athanasius Kircher, o grande pai do mystagogismo. Kircher pretendia que a numerologia fosse científica e mesclava-a com experimentos magnéticos que buscavam provar que o número 4 era propiciatório ao bom desenvolvimento das cidades. Assim nasceram as quatro vias estruturais de Curitiba. Determinava o plano de Agache que, quando o adensamento do trânsito obrigasse, essas vias deveriam comportar faixas específicas para o transporte coletivo. Qualquer semelhança, não é semelhança, é ctrl-C ctrl-V.


O último grande mystagogo de Curitiba é Rafael Greca de Macedo, atual Grão Mestre da Regional-PR da Ordem. Greca, quando prefeito, retornou ao tema dos faróis da Iluminação mística de Alfred Agache. Basta ver acima os planos da praça Tiradentes e do Centro Cívico.